Saúde Mental em Foco
Saúde Mental e Psicologia na Contemporaneidade
29
Nov
2025
A Personalidade Humana sob a ótica da Antropologia Frankliana

A Personalidade Humana sob a ótica da Antropologia Frankliana

Introdução

Viktor Frankl, renomado psiquiatra e fundador da Logoterapia e Análise Existencial, é amplamente reconhecido por suas contribuições no campo da psicoterapia, especialmente por sua ênfase no sentido da vida como fator central da saúde mental. Embora não tenha desenvolvido uma teoria específica sobre a personalidade humana, Frankl ofereceu insights valiosos sobre a natureza humana, sugerindo que a personalidade é composta por três elementos fundamentais: o "dado" (herança biológica), o "adquirido" (influências sociais) e a "autodeterminação" (liberdade e responsabilidade pessoal). A partir da Antropologia Frankliana, pode-se argumentar que o ser humano é, de fato, o "construtor" de sua personalidade, uma vez que exerce uma função ativa e consciente na formação e transformação de si mesmo. Este artigo explora essa premissa, analisando como esses três componentes interagem para permitir que o indivíduo molde sua própria identidade.

O dado: herança biológica

O primeiro componente da personalidade humana segundo Frankl é o "dado", que se refere aos aspectos biológicos e genéticos herdados. Estes constituem a base sobre a qual a personalidade se desenvolve. Fatores como predisposições genéticas, características físicas e temperamento inato formam os alicerces da personalidade, mas não a determinam por completo (Frankl, 1985). A compreensão de que temos um ponto de partida biológico é crucial, pois nos dá uma base estável sobre a qual construímos, mas não limita nosso potencial de desenvolvimento.

O adquirido: influências sociais

O segundo componente, o "adquirido", engloba as influências sociais e interpessoais que moldam a personalidade ao longo da vida. Desde a infância, as interações com a família, amigos, educadores e a sociedade em geral desempenham um papel significativo na formação das crenças, valores e comportamentos de um indivíduo (Frankl, 1967). Esses elementos adquiridos são dinâmicos e se acumulam com o tempo, refletindo a capacidade humana de aprender e adaptar-se. No entanto, é a interação consciente e crítica com essas influências que permite ao indivíduo integrar ou rejeitar certos aspectos, exercendo assim um controle ativo sobre sua própria formação.

A autodeterminação: liberdade e responsabilidade

A característica mais distintiva da Antropologia Frankliana é a ênfase na "autodeterminação", que é a capacidade humana de escolher e tomar responsabilidade por suas próprias ações e decisões. Frankl (1959) argumenta que, mesmo diante de circunstâncias adversas, os seres humanos possuem a liberdade de atribuir significado às suas experiências e de decidir como responder a elas. Essa liberdade é acompanhada de responsabilidade, pois cada escolha contribui para a construção da personalidade. Ao exercer a autodeterminação, o indivíduo não apenas reage ao "dado" e ao "adquirido", mas também age, molda ativamente quem ele é e quem deseja se tornar.

O ser humano como construtor de sua personalidade

Integrando esses três componentes, podemos afirmar que o ser humano é o "construtor" de sua personalidade. A herança biológica fornece uma estrutura inicial, as influências sociais oferecem material de construção, mas é a autodeterminação que atua como o arquiteto dessa construção. Frankl (1988) descreve a existência humana como um processo contínuo de construção, realização de sentidos e de autotranscendência, onde cada escolha e ação contribui para a edificação de uma personalidade única e autêntica. Portanto, mesmo que as circunstâncias externas e os determinantes biológicos influenciem a personalidade, é a capacidade de escolha consciente que permite ao indivíduo ser o principal agente de sua própria transformação.

Considerações Finais

A Antropologia Frankliana proporciona uma visão profunda e integradora da personalidade humana, destacando a capacidade do indivíduo de ser o autor de sua própria vida. Ao considerar os elementos do "dado", "adquirido" e "autodeterminação", podemos entender que, embora sejamos influenciados por fatores biológicos e sociais, é a nossa liberdade e responsabilidade que nos permite moldar ativamente quem somos. Viktor Frankl nos oferece não apenas uma perspectiva teórica, mas um convite à ação: reconhecer nosso potencial de construção e transformação contínua. Assim, cada ser humano, ao fazer escolhas conscientes e responsáveis, torna-se o verdadeiro construtor de sua personalidade.

Referências bibliográficas

Frankl, V. E. (1959). Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de concentração. Editora Vozes.

Frankl, V.E. (1967). Psicoterapia e existencialismo: Ensaios sobre a logoterapia. Simon e Schuster.

Frankl, V.E. (1985). A presença ignorada de Deus: Psicoterapia e humanismo. Simon e Schuster.

Frankl, V. E. (1988). A vontade de sentido: Fundamentos e aplicações da logoterapia. Penguin Books.

By Jurandir de S. Corrêa Júnior

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